Entre os temas que atrapalham a relação arquiteto/cliente um dos mais importantes é a falta de entendimento do seja um projeto. É muito comum que alguém se refira ao projeto –ou projetos, no plural, como se verá— como “a planta”. Sendo assim, não é de estranhar que o projeto não seja visto como uma das duas partes mais importantes de um processo de construção e, que por consequência, encontre dificuldades em ser remunerado condignamente.
Que os clientes saibam exatamente do que consiste um projeto me parece importante não apenas para que o nosso trabalho possa ser melhor entendido e valorizado, mas também para que possam exigir dos profissionais que contratam aquilo a que têm direito.
A rigor, um projeto é um conjunto de documentos que serve para orientar a construção de um edifício, espaço aberto ou objeto. O sucesso ou fracasso de qualquer uma dessas empreitadas depende do grau de aprofundamento e detalhamento do projeto. A seguir eu tentarei descrever os seus principais aspectos.
Antes de iniciar o seu trabalho, o arquiteto necessita reunir uma série de informações essenciais. A primeira tem a ver com o propósito a que se destina a obra. Na maioria dos casos o cliente não tem um programa de necessidades definido antes de contactar um profissional. Essa seria a primeira tarefa: montar o programa de necessidades junto com o cliente. Em alguns casos isso pode ser fácil, como nos projetos residenciais, em outros exigirá pesquisa adicional, como nos casos de edifícios industriais ou de outros com necessidades muito específicas.
Vale lembrar aqui que a universidade capacita profissionais a projetar de modo amplo e geral, não especializando ninguém a fazer isso ou aquilo. A complexidade do mundo atual torna impossível cobrir todos os programas possíveis, o que seria inútil, pois ao sair da faculdade o conhecimento adquirido já seria obsoleto. Ou seja, na faculdade se aprende um método de projeto que pode ser aplicado a qualquer situação, não a projetar edifícios específicos. Daí a necessidade de se pesquisar sempre para melhor atender aos trabalhos que aprecem.
Montado o programa de necessidades e entendidas as aspirações do cliente, é preciso ir atrás de informações legais (cada cidade tem um plano diretor e código de obras que regulamentam a construção), climáticas (direção e intensidade dos ventos, variações de temperatura, insolação, etc) e culturais, pois nenhuma edificação acontece num vácuo e é importante que possa se integrar ao meio existente.
Pode-se dizer que qualquer projeto tem dois aspectos fundamentais. O primeiro consiste na espacialização do programa de necessidades do cliente, na sua transformação em espaços adequados ao desempenho confortável de uma atividade. O segundo é técnico, e consiste em definir de que modo o edifício será construido –materiais e técnicas construtivas— como seus habitantes serão protegidos das intempéries e dos “amigos do alheio” e como o edifício se relacionará com a rede de serviços públicos.
Na próxima postagem abordarei o primeiro desses aspectos, o processo de espacialização do programa de necessidades.
Sugestão de leitura: A arquitetura da felicidade, de Alain de Botton, um dos melhores, senão o melhor, livros sobre arquitetura escrito por um não-arquiteto, para não-arquitetos. Vale a pena ler.
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OBS.: Comentários são muito bem vindos e será um prazer respondê-los mas só serão publicados e respondidos aqueles que tiverem autoria (nome + email, por favor). Obrigado.
Que os clientes saibam exatamente do que consiste um projeto me parece importante não apenas para que o nosso trabalho possa ser melhor entendido e valorizado, mas também para que possam exigir dos profissionais que contratam aquilo a que têm direito.
A rigor, um projeto é um conjunto de documentos que serve para orientar a construção de um edifício, espaço aberto ou objeto. O sucesso ou fracasso de qualquer uma dessas empreitadas depende do grau de aprofundamento e detalhamento do projeto. A seguir eu tentarei descrever os seus principais aspectos.
Antes de iniciar o seu trabalho, o arquiteto necessita reunir uma série de informações essenciais. A primeira tem a ver com o propósito a que se destina a obra. Na maioria dos casos o cliente não tem um programa de necessidades definido antes de contactar um profissional. Essa seria a primeira tarefa: montar o programa de necessidades junto com o cliente. Em alguns casos isso pode ser fácil, como nos projetos residenciais, em outros exigirá pesquisa adicional, como nos casos de edifícios industriais ou de outros com necessidades muito específicas.
Vale lembrar aqui que a universidade capacita profissionais a projetar de modo amplo e geral, não especializando ninguém a fazer isso ou aquilo. A complexidade do mundo atual torna impossível cobrir todos os programas possíveis, o que seria inútil, pois ao sair da faculdade o conhecimento adquirido já seria obsoleto. Ou seja, na faculdade se aprende um método de projeto que pode ser aplicado a qualquer situação, não a projetar edifícios específicos. Daí a necessidade de se pesquisar sempre para melhor atender aos trabalhos que aprecem.
Montado o programa de necessidades e entendidas as aspirações do cliente, é preciso ir atrás de informações legais (cada cidade tem um plano diretor e código de obras que regulamentam a construção), climáticas (direção e intensidade dos ventos, variações de temperatura, insolação, etc) e culturais, pois nenhuma edificação acontece num vácuo e é importante que possa se integrar ao meio existente.
Pode-se dizer que qualquer projeto tem dois aspectos fundamentais. O primeiro consiste na espacialização do programa de necessidades do cliente, na sua transformação em espaços adequados ao desempenho confortável de uma atividade. O segundo é técnico, e consiste em definir de que modo o edifício será construido –materiais e técnicas construtivas— como seus habitantes serão protegidos das intempéries e dos “amigos do alheio” e como o edifício se relacionará com a rede de serviços públicos.
Na próxima postagem abordarei o primeiro desses aspectos, o processo de espacialização do programa de necessidades.
Sugestão de leitura: A arquitetura da felicidade, de Alain de Botton, um dos melhores, senão o melhor, livros sobre arquitetura escrito por um não-arquiteto, para não-arquitetos. Vale a pena ler.
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OBS.: Comentários são muito bem vindos e será um prazer respondê-los mas só serão publicados e respondidos aqueles que tiverem autoria (nome + email, por favor). Obrigado.
9 comentários:
Edson, sobre projeto/cliente/arquiteto posso te contar uma que vivenciei:
uma amiga minha de sampa, na época casada com um homem mui rico, chamou o eduardo longo para construir a casa deles no morumbi:
veio o eduardo e se instalou na casa deles como observador, como uma mosca, não uma visita, por uma semana. depois propós e construiu uma casa deveras linda, mas: o dono não gostou muito, durante a obra houve discussões, a dona defendeu o arquiteto... brigas diárias.
depois de pronta, eu a ví. tinha um sala branca, totalmente branca, a não ser um lustre árabe de latão, e para entrar na sala era preciso usar chinelos de coelho branco. um dia o dono da casa ficou tão furioso que jogou espaguettis com molho de tomate nas paredes. fim da história, venderam a casa e cada um foi para seu canto.
conto isso só para divertir um pouco....
:)))))))))))))
beijão, adoro teu blog
TO
isso soa como problema de comunicação entre arquiteto e cliente. não é possível que a obra pronta seja uma surpresa total para o dono. ao longo do caminho o arquiteto deve mostrar a idéia do modo mais claro possível,
beijo. para evitar esse tipo de problema.
talvez ele confiasse demais em si, achando que no final o cliente ia adorar a casa.
Realmente um tema que deve despertar muito interesse e atenção de arquitetos - sendo inclusive uma espécie de guia de orientaçào para arquitetos recém formados; acredito pode trazer grandes elucidações para os clientes;
É muito comum atualmente arquitetos serem convocados a "darem uma idéia" ao cliente sobre o preojeto sem serem contratados propriamente para isso, enquanto que a idéia é o que realmente "vendemos" é o nosso produto, síntese de toda nossa bagagem técnica-científica-cultural.
Parabéns pela idéia, aguardo ansiosa as proximas postagens
abs
Cristiane Wainberg Finkelstein- Arquiteta
Olá Mahfuz, meu nome é Felipe Reck, fui estudante de arquitetura na UFRGS, não sei se te lembras de mim.
Gostaria de fazer um comentário sobre a elaboração do programa de necessidades: tenho observado que às vezes é um pouco difícil "extrair" dos clientes algumas informações que vão mais além do básico (do tipo "preciso de três quartos, uma sala..." ou "uma sala de reuniões, uma recepção..."). Aspectos mais subjetivos, relativos ao modo de vida, de trabalho, de inter-relação entre os moradores ou trabalhadores, atividades eventuais, etc... Quando digo "difícil" quero dizer que falta método, e acho que nesse aspecto a formação da UFRGS (talvez a de todas as faculdades) é um pouco falha, pois sempre recebemos o programa de necessidades pronto, ou então nós mesmos o elaborávamos, mas o cliente era sempre um ser imaginário/ideal, e não partícipe/interessado. Não sei se você concorda...
Aliás, explorando-o um pouquinho (hehehe), se tiveres alguma bibliografia sobre o tema para indicar, agradeço muito!
Abraços
Felipe
p.s.: também gostei muito do "A Arquitetura da Felicidade".
Acho que me esqueci de publicar meu email: felipereck@gmail.com
Abraços
Felipe
felipe,
por um lado, estou de acordo contigo, poderia-se incluir algum cliente real em trabalhos acadêmicos.
por outro, não se pode esperar que a faculdade cubra todos os aspectos necessários à formação do arquiteto. na europa e eua o título acadêmico não dá direito à prática, é preciso mais 2 ou 3 anos de aprendizado prático em escritório, onde se aprende o resto.
por aqui se pretende que o formando saia da escola pronto, o que é impossível em 5 anos. mas algo sempre se pode melhorar.
abraço.
gostei do teu site...visita o meu tambem.. http://www.portaldoarquiteto.com grande abraço.. façam tambem o seu portfolio online
Prezado Edson, meu chará e colega;
Receio em lhe dizer que você não disse realmente o que era mais importante neste comentário, intitulado "Quanto vale um projeto?". Ficou apenas uma espécia de "borda de pizza", sem que pudéssemos realmente provar do "molho e do queijo".
Esperava ver ao menos alguns links que nos conduzisse a ver de frente a cara dos preços, a metodologia de avaliação, etc.
De fato, já conhecemos esse problema há quase 1 século. E os leigos parece que também, pois estão sempre a tentar nos fazerem de otários. Regateiam como mascates e caloteiam como verdadeiros estelionatários. É o eterno desrespeito profissional e a inveja da clientela de classe média que adora serem médicos, arquitetos, engenheiros, farmacêuticos entre outros. Contudo, são mesmo picaretas. Só não conseguem ser advogados. Por quê será que isso acontece? Tentam sempre arrancar "dicassss" de graça.
Nós não somos tolos.
Quanto à questão do tema abordado e do valor dos projetos, acho que você ficou nos devendo essa.
Um abraço
Edson Cláudio Neiva
Arquiteto
prezado edson,
pretendo voltar ao assunto mas o propósito é tentar mostrar que um projeto de arquitetura é algo muito mais complexo e trabalhoso do que imaginam os não arquitetos, além de fundamental para o resultado de qualquer obra.
não creio que vá resolver os problemas que comentas mas não custa tentar. se mais gente se dedicar a fazer isso, talvez nosso trabalho possa ser mais valorizado.
abraço.
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