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QUANTO VALE UM PROJETO? (Parte 1: Generalidades)


Entre os temas que atrapalham a relação arquiteto/cliente um dos mais importantes é a falta de entendimento do seja um projeto. É muito comum que alguém se refira ao projeto –ou projetos, no plural, como se verá— como “a planta”. Sendo assim, não é de estranhar que o projeto não seja visto como uma das duas partes mais importantes de um processo de construção e, que por consequência, encontre dificuldades em ser remunerado condignamente.

Que os clientes saibam exatamente do que consiste um projeto me parece importante não apenas para que o nosso trabalho possa ser melhor entendido e valorizado, mas também para que possam exigir dos profissionais que contratam aquilo a que têm direito.

A rigor, um projeto é um conjunto de documentos que serve para orientar a construção de um edifício, espaço aberto ou objeto. O sucesso ou fracasso de qualquer uma dessas empreitadas depende do grau de aprofundamento e detalhamento do projeto. A seguir eu tentarei descrever os seus principais aspectos.

Antes de iniciar o seu trabalho, o arquiteto necessita reunir uma série de informações essenciais. A primeira tem a ver com o propósito a que se destina a obra. Na maioria dos casos o cliente não tem um programa de necessidades definido antes de contactar um profissional. Essa seria a primeira tarefa: montar o programa de necessidades junto com o cliente. Em alguns casos isso pode ser fácil, como nos projetos residenciais, em outros exigirá pesquisa adicional, como nos casos de edifícios industriais ou de outros com necessidades muito específicas.

Vale lembrar aqui que a universidade capacita profissionais a projetar de modo amplo e geral, não especializando ninguém a fazer isso ou aquilo. A complexidade do mundo atual torna impossível cobrir todos os programas possíveis, o que seria inútil, pois ao sair da faculdade o conhecimento adquirido já seria obsoleto. Ou seja, na faculdade se aprende um método de projeto que pode ser aplicado a qualquer situação, não a projetar edifícios específicos. Daí a necessidade de se pesquisar sempre para melhor atender aos trabalhos que aprecem.

Montado o programa de necessidades e entendidas as aspirações do cliente, é preciso ir atrás de informações legais (cada cidade tem um plano diretor e código de obras que regulamentam a construção), climáticas (direção e intensidade dos ventos, variações de temperatura, insolação, etc) e culturais, pois nenhuma edificação acontece num vácuo e é importante que possa se integrar ao meio existente.

Pode-se dizer que qualquer projeto tem dois aspectos fundamentais. O primeiro consiste na espacialização do programa de necessidades do cliente, na sua transformação em espaços adequados ao desempenho confortável de uma atividade. O segundo é técnico, e consiste em definir de que modo o edifício será construido –materiais e técnicas construtivas— como seus habitantes serão protegidos das intempéries e dos “amigos do alheio” e como o edifício se relacionará com a rede de serviços públicos.

Na próxima postagem abordarei o primeiro desses aspectos, o processo de espacialização do programa de necessidades.

Sugestão de leitura: A arquitetura da felicidade, de Alain de Botton, um dos melhores, senão o melhor, livros sobre arquitetura escrito por um não-arquiteto, para não-arquitetos. Vale a pena ler.


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O PREÇO DA INSEGURANÇA

Além dos problemas psicológicos, fisícos e financeiros individuais que decorrem de viver em cidades sem segurança, como é o caso do Brasil, a própria arquitetura e o urbanismo são afetados pelo clima de medo que nos afeta a todos, sem exceção.

No âmbito da cidade, se alteram os padrões de uso e a sua própria constituição física. Os espaços públicos abertos deixam de ser o local de encontro preferencial e a vida pública se desloca para lugares privados, controlados e policiados. A insegurança leva a considerações sobre o cercamento de praças e parques, coisa impensável no passado. A própria relação entre espaço privado e espaço público se modifica radicalmente quando quase todos os edifícios e casas tem gradis que separam esses dois âmbitos tão importantes da nossa vida. Uma reação extrema à situação atual é a fuga para condomínios fechados onde há mais segurança mas, infelizmente, a vida é infinitamente menos rica do que pode ser em uma cidade normal sem os problemas que temos hoje.

No que se refere aos edifícios, há consequências relacionadas ao custo envolvido em tentar torná-los mais seguros, e outras relacionadas à dimensão estética das medidas de segurança adotadas.

Em um edifício com várias unidades o custo se dilui e não é tão decisivo mas, na construção de uma casa, de 10 a 25% do custo total pode ser gasto em equipamentos de segurança. Muros altos, cercas elétricas, grades, gradis, portões automáticos, sistemas de alarme e monitoramento à distância são hoje padrão em qualquer casa ou edifício de padrão médio. O custo pode subir ainda mais com o emprego de câmeras e sensores mais sofisticados, sem falar na presença de seguranças e guaritas.

Todo esse aparato incide diretamente na constituição e aparência das edificações, muitas vezes com resultados desastrosos, especialmente quando se trata de instalações em prédios e casas já terminados.

No entanto, é possível e desejável que esses elementos sejam integrados ao projeto desde o início e que, no caso de reformas, sejam integrados aos elementos existentes. O melhor seria poder prescindir dessas camadas de proteção mas, sendo inevitável, que se tire partido estético delas.

Na ilustração desta semana, um exemplo de como gradis, portas de garagem, grades, cerca elétrica, podem ser integrados ao projeto, até o ponto de se desenhar as hastes da cerca e mudar a cor dos seus isoladores.

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