A partir do momento em que nos conscientizamos de que o uso responsável de energia deve ser uma preocupação fundamental em toda construção, os edifícios muito envidraçados passaram a ser olhados com suspeição.
Em geral construídas para ser sedes de grandes corporações —embora também haja hotéis e edifícios residenciais construídos assim— as torres de vidro, especialmente aquelas construídas na América Latina, se tornaram nas últimas décadas símbolos de conduta perdulária e irresponsável.
A razão desta má fama é simples de entender. Sendo o vidro um mau isolante térmico, o seu uso convencional exige sistemas de ar condicionado potentes e eficientes para que seja possível suportar um dia de trabalho no seu interior. Isso vale tanto para regiões quentes como para regiões frias.
No entanto, como em tudo na vida, há alternativas para reduzir ou eliminar o problema. Não parece razoável descartar uma material tão interessante como o vidro porque não conseguimos utilizá-lo adequadamente.
Um caso recente de uso inteligente e econômico do uso do vidro é o do edifício que abriga a infraestrutura de sistemas e serviços de informática da Universidade Católica do Chile, também conhecido como Torres Siamesas, de autoria de Alejandro Aravena e equipe.
O ponto de partida do projeto era um programa bastante simples: um edifício de escritórios configurado como torre de vidro, conforme a solicitação expressa do cliente. A resposta óbvia da maioria dos arquitetos seria uma sucessão vertical de pavimentos, um envoltório de vidro e um potente sistema de ar condicionado, solução logo descartada por questões mais orçamentárias que técnicas: uma fachada de vidro que fosse eficiente do ponto de vista climático na latitude de Santiago custaria uma soma fantástica, sem falar no altíssimo gasto de energia necessário para manter um sistema de ar condicionado compatível.
Desejando atender ao desejo do cliente, sem incorrer nos erros habituais dos edifícios envidraçados, os arquitetos adotaram uma solução que considero brilhante: criar dois edifícios, um dentro do outro.
O edifício interior, cujas paredes são de fibrocimento, define os espaços de trabalho e limita a quantidade de luz natural —aspecto importante em um edifício em que todo o trabalho é feito em computadores. O edifício exterior é feito de vidro, o que dá ao conjunto a aparência desejada pelos clientes.
O brilhantismo da proposta reside em dois aspectos. Por um lado, a tecnologia usada nas duas capas que constituem as fachadas é barata e corrente. Por outro lado, o espaço entre elas —combinado com aberturas na base e no topo— funciona como uma chaminé perimetral que faz com que o ar quente gerado pela superfície de vidro saia por cima, evitando assim o efeito estufa característico das fachadas cortina, protegendo o interior do edifício do excesso de calor e evitando o uso intensivo do sistema de ar condicionado, que fica restrito aos dias de temperatura extrema.
Um projeto inteligente que mostra que a eficiência não está necessariamente associada ao alto custo de uma construção.
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OBS.: Comentários são muito bem vindos e será um prazer respondê-los mas só serão publicados e respondidos aqueles que tiverem autoria (nome + email, por favor). Obrigado.
Em geral construídas para ser sedes de grandes corporações —embora também haja hotéis e edifícios residenciais construídos assim— as torres de vidro, especialmente aquelas construídas na América Latina, se tornaram nas últimas décadas símbolos de conduta perdulária e irresponsável.
A razão desta má fama é simples de entender. Sendo o vidro um mau isolante térmico, o seu uso convencional exige sistemas de ar condicionado potentes e eficientes para que seja possível suportar um dia de trabalho no seu interior. Isso vale tanto para regiões quentes como para regiões frias.
No entanto, como em tudo na vida, há alternativas para reduzir ou eliminar o problema. Não parece razoável descartar uma material tão interessante como o vidro porque não conseguimos utilizá-lo adequadamente.
Um caso recente de uso inteligente e econômico do uso do vidro é o do edifício que abriga a infraestrutura de sistemas e serviços de informática da Universidade Católica do Chile, também conhecido como Torres Siamesas, de autoria de Alejandro Aravena e equipe.
O ponto de partida do projeto era um programa bastante simples: um edifício de escritórios configurado como torre de vidro, conforme a solicitação expressa do cliente. A resposta óbvia da maioria dos arquitetos seria uma sucessão vertical de pavimentos, um envoltório de vidro e um potente sistema de ar condicionado, solução logo descartada por questões mais orçamentárias que técnicas: uma fachada de vidro que fosse eficiente do ponto de vista climático na latitude de Santiago custaria uma soma fantástica, sem falar no altíssimo gasto de energia necessário para manter um sistema de ar condicionado compatível.
Desejando atender ao desejo do cliente, sem incorrer nos erros habituais dos edifícios envidraçados, os arquitetos adotaram uma solução que considero brilhante: criar dois edifícios, um dentro do outro.
O edifício interior, cujas paredes são de fibrocimento, define os espaços de trabalho e limita a quantidade de luz natural —aspecto importante em um edifício em que todo o trabalho é feito em computadores. O edifício exterior é feito de vidro, o que dá ao conjunto a aparência desejada pelos clientes.
O brilhantismo da proposta reside em dois aspectos. Por um lado, a tecnologia usada nas duas capas que constituem as fachadas é barata e corrente. Por outro lado, o espaço entre elas —combinado com aberturas na base e no topo— funciona como uma chaminé perimetral que faz com que o ar quente gerado pela superfície de vidro saia por cima, evitando assim o efeito estufa característico das fachadas cortina, protegendo o interior do edifício do excesso de calor e evitando o uso intensivo do sistema de ar condicionado, que fica restrito aos dias de temperatura extrema.
Um projeto inteligente que mostra que a eficiência não está necessariamente associada ao alto custo de uma construção.
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OBS.: Comentários são muito bem vindos e será um prazer respondê-los mas só serão publicados e respondidos aqueles que tiverem autoria (nome + email, por favor). Obrigado.
12 comentários:
prezado anônimo,
quem não se identifica não merece resposta, ainda mais quando age de modo tão agressivo.
que tal fazer a observação de modo mais civilizado? terei o maior prazer em responder, desde que saiba com quem estou falando.
A edificação é em Santiago?
A solução é otima para o inverno chileno, embora desconheça o verão de santiago....
sim, é em santiago. tanto quanto sei, o clima de lá apresenta frio e calor, mas sem extremos muito marcados.
Edson,
Bacana ver que as preocupações com eficiência energética e construtiva estão cada vez mais presentes na arquitetura. O que me desagrada ainda é ver o assunto quando cai para o âmbito residencial ser tratado como "ecológico=sem qualidade" ou então com o enfoque apenas do rústico como capa ecológica e ambiental. Seria ótimo provar para o mundo que não é preciso ser jeca para ser uma pessoa de atos ecológicamente correto.
Otimo blog,
[]s
shallon@gmail.com
Olá, sou estudante e costumo ler seu blog. Estou montando aqui no logspot meu portifólio virtual e o linkei, ok?
Obrigado e parabéns. Gosto muito daqui.
olá mahfuz,
nada a ver com o assunto discutido , mas gostaria de saber seu ponto de vista em relação ao velho conflito entre decoradores e arquitetos, ja que na sociedade em geral há uma grave confusão no trabalho dos dois, que na minha opinião é diferente, mas infelizmentemente muita gente não enxerga assim. Gostaria que a resposta fosse um dos assuntos mensais que vc discute no blog para poder ser debatido abertamente e saber nao so a sua opiniao mas a de outras pessoas. Obrigado!
michelle,
pretendo continuar tocando nesses assuntos. obrigado pela visita.
gabriel,
obrigado por colocar um link para cá.
javi,
coloquei o tema na lista. vou abordá-lo, sem dúvida, logo que puder.
abraço a todos.
Oi Edson
após a leitura do texto, me lembrei que esse projeto foi publicado na au156. Na revista encontramos cortes com o detalhe da estrutura Vale apena conferir!
Ótima solução do arquiteto nas questões climaticas, ambientais e economicas.
Neste exato momento estou em Montevideo fazendo um intercambio com a Facultad de Arquitectura, e ontem comecei a criar um blog, e anexei o teu link do blog lá! Espero que os uruguayos interajam com teus textos também...
Bom é isso
Beijos Roberta
Muito interessante a solução adotada neste prédio, já havia reparado solução semelhante (e obviamente bem menos ousada, mas não menos criativa) em alguns prédios menos requintados aqui do RS.
O Hotel Swan Tower de Novo Hamburgo (RS) é um exemplo que sempre me chamou atenção, por ter uso de bastante vidro na fachada, tendo as paredes "de verdade" mais ao fundo.
Não é o caso de um prédio dentro do outro, mesmo assim a solução é ótima.
Olá pessoal
Sou estudante de Arquitetura e Urbanismo. Estava justamente pesquisando dobre as Torres Siamesas quando encontrei o Blog...
Muito interessante e me ajudou um monte no entendimento do projeto já que as revistas que nossa biblioteca possui sobre esse assunto são todas em espanhol...
Então, muitos bjo e valeu pela força...
ahiba muchachos...(não sei se isso se escreve assim)_hehehe
Edson,
Li agora vários textos de seu blog que achei muito interessantes. Pelo que vi você não escreve há um tempo, mas torço para que volte, já que até agora não encontrei leitura que abordasse esses temas, e ainda com essa clareza.
certamente voltarei, mas tenho o hábito de postar apenas quando penso que tenho algo a dizer. obrigado pela visita e pelo incentivo.
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