“GOVERNANTES”

Se prestarmos alguma atenção ao início das campanhas eleitorais para a prefeitura das principais cidades brasileiras, não poderemos nos surpreender nem indignar com o estado deplorável em que as mesmas se encontram.

O que fica imediatamente claro é que, para os partidos políticos, o cargo de prefeito, e o consequente encargo de administrar o local onde vivem milhões de pessoas, não é nada mais do que uma fatia de poder a ser conquistado e compartilhado com correligionários e aliados.

Os candidatos que vão aparecendo não possuem, na sua maioria, nenhuma qualificação profissional para administrar qualquer coisa maior do que seu gabinete parlamentar. É lamentável ver um partido que se diz sério e preocupado com valores importantes como o PCdoB indicar como candidata à prefeitura de Porto Alegre uma deputada de 26 anos de idade.

Não tenho nada contra os jovens, isso seria uma estupidez. Porém, administrar uma cidade de mais de um milhão de habitantes exige competência técnica, sabedoria, vivência de mundo, coisas que só se adquire com o tempo.

O panorama atual é tão sombrio que basta que alguém seja “bom de voto” para virar candidato(a) aos vários cargos públicos que são disputados a cada quatro anos. Daí a proliferação de candidadtos oriundos do futebol, dos meios de comunicação, do meio artístico e das religiões. Competência para o cargo é dispensável na era do espetáculo e das celebridades.

Dirão alguns que o prefeito pode ser um político, pois quem administra realmente são os secretários. A realidade contradiz isso. As secretarias raramente são comandadas por técnicos competentes; seus titulares em geral são políticos sem aptidão específica para os cargos que ocupam. Além disso, a todo o momento o cargo pode ser utilizado nos acordos entre partidos e o titular substitído, sem nenhuma preocupação pelo seguimento de programas importantes para a cidade.

Quantas vezes acontece de o Secretário da Saúde ser da área médica, o do Planejamento e Obras ser arquiteto ou engenheiro, e assim por diante?

Quantos candidatos a prefeito têm idéia do que constitui realmente uma boa qualidade de vida urbana? Quantos têm um programa para chegar pelo menos mais perto disso? E quantos declaram quais os técnicos que os auxiliarão a cumprir seus objetivos?

O que se espera de candidatos a cargo de tal importância é uma avaliação consciente dos problemas da cidade e propostas de soluções para o mesmos. Mas não é possível parar por aí. Um administrador competente não pode apenas cumprir uma rotina óbvia; é preciso olhar para o futuro da cidade e tomar medidas que levem o seu desenvolvimento em conta.

Olhando em volta, não se vê nada disso. Continuaremos elegendo candidatos pelo seu sorriso bonito, porque foram dirigentes do nosso clube ou por qualquer outra razão irrelevante. E as oportunidades continuarão sendo perdidas, ao mesmo tempo em que as cidades vão piorando.

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3 comentários:

luciano l. basso disse...

Amigo Mahfuz, já sentia falta dos teus textos!!!

Pois é, velho problema de secretarias ditas técnicas não serem comandadas por um técnico (e não vale a piada de péssimo gosto de colocar um técnico de futebol)... mas também já foi provado que não vale nada termos um arquiteto (ou engenheiro) que tenha seu diploma apenas para endossar o santinho.

Então, onde está a solução? Um corpo técnico permanente com autonomia? Será que não resolvemos assim um problema e criamos outro?

Como devia ser bom o tempo em que a política não era tão política.

abraço
luciano.

Jorge Luis Stocker Jr. disse...

Pois é, parece tão óbvio que uma secretaria de obras deveria ser ocupada por profissional da área, e assim por diante, mas não é o que acontece.

A política brasileira é um jogo de interesses bem lamentável. Arrisco dizer que até mesmo se essas secretarias e ministérios fossem ocupados por técnicos, não mudaria tanta coisa assim, infelizmente.
Porque não seria indicado por competência, mas por interesses.

clara disse...

Arriscaria dizer que a coisa é bem complexa mesmo, mas isso é “chover no molhado”. Em Brasília, o governador eleito é um engenheiro (Sr. Arruda, aquele do caso do painel no Senado) e a cidade virou um verdadeiro canteiro de obras, principalmente, obras de infra-estrutura nesses últimos anos. O povo elegeu um engenheiro para o GDF e acho que, comparativamente, o governo dele tem realizado mudanças para melhor (antes, o governador Roriz estava ocupadíssimo comprando voto dos eleitores pobres e roubando a contento). Na época do Sr. Roriz (acho que o cabra é um advogado – bem velhaco, por sinal), foram criadas até a Secretaria do Papel Higiênico e do Faz de Conta, era uma vergonha, e, olha, o povo, o povo mesmo, ficava muito feliz porque, afinal, ele, o povo, tinha emprego na Administração Pública. Acho que o Brasil precisa mesmo de mais caras administrando as cidades, como o Jaime Lerner. Acredito sempre na lei do incentivo, na lei da mídia e na lei da compensação. Sabe aquela coisa, divulgação maciça das boas práticas da área, e dos profissionais, sem medo de que isso venha a parecer comércio barato.