IDÉIAS ENGAVETADAS



Há algum tempo a Caixa Econômica Federal, em parceria com o Instituto dos Arquitetos do Brasil, começou a fazer concursos públicos nacionais de projeto “em busca de idéias e soluções em arquitetura e urbanismo adequadas, inovadoras, para o problema do déficit habitacional brasileiro, principalmente para a população com faixa de renda familiar de até cinco salários mínimos”. São os Prêmios Caixa-IAB, realizado em 2004 e em pleno andamento neste exato momento.

Com isso a Caixa reconhece a falta de qualidade do que tem sido feito até hoje e realiza um esforço para interessar os arquitetos que tem idéias neste tema tão importante para um país como o Brasil.

Essa iniciativa, em tudo e por tudo meritória, sofre do mesmo mal de tantas outras em nosso país: ela não se completa, não vai até sua consequência óbvia e lógica, que seria a construção dos projetos vencedores.

Depois de concluído o concurso, há exposições, premiações, badalações entre os arquitetos, mas os projetos vão para a gaveta. Não adianta nada dizerem que os vencedores estão habilitados –no sentido de estarem aprovados pela Caixa-- a serem construídos por qualquer construtora que assim o desejar. Como isso aconteceria? Após os autores baterem de porta em porta oferecendo o seu trabalho?

Não seria o caso da Caixa bancar a construção de meia dúzia de projetos para materializar a incorporação de idéias à construção da moradia popular e realmente testar se elas funcionam mesmo?

Um exemplo do que estou falando é o Projeto Elemental, organizado no Chile em 2004. Por meio de um concurso internacional foram escolhidos sete projetos que estão sendo construidos como o embrião de um processo mais abrangente.

Porque no Brasil mesmo as melhores idéias não conseguem prosperar, sempre parando um passo antes da sua realização total?


Na imagem, o projeto de minha autoria para uma área em Cristalina, GO, um dos treze escolhidos no Prêmio Caixa-IAB 2004 e devidamente engavetado. Colaboraram nesse trabalho Juan Luis Mascaró, Nicolás Palermo, Roberto Nehme, Albert Koelln e Norberto Bedin.


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OBS.: Comentários são muito bem vindos e será um prazer respondê-los mas, por favor, identifique-se (nome + email), para eu poder saber com quem estou me comunicando. Obrigado.

12 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Mahfuz, por algumas vezes nos encontramos por meio de amigos em comum, certamente não te lembras de mim fui orientando do prof. José C. Marques na PUC que ganhou juntamente com ele o Opera em 2003, creio que a última vez em que nos encontramos foi no aniversário do dr. Moacyr M. Marques em Xangri-lá, quando o Zé Marques preparou um espetacular spetzel... mas encontros e desencontros a parte, acho que tu tocaste em um assunto que por incrível que pareça não é abordado suficientemente, o engavetamento de projetos resultantes de concursos públicos de arquitetura.

O caso do Prêmio Caixa-IAB não é único, vamos desconsiderar o MultiPalco -o qual todos temos conhecimento da luta para que fosse emplacado o concurso- qual outro projeto temos no RS totalmente implementado e que foi resultado de concurso público recente? (da gestão do Fayet em diante)

Não tenho conhecimento do resultado efetivo de concursos realizados no resto do Brasil, mas aqui nestes pagos a gaveta tem predominado, aumentando o sentimento de desrespeito ao trabalho por nós arquitetos realizado, pois vemos muitas vezes projetos vencedores de concursos serem jogados no lixo ou substituídos por outros projetos questionáveis (como no caso da OSPA), diminuindo a credibilidade do IAB e cerceando a possibilidade de termos embriões de boa arquitetura nas nossas cidades.

Infelizmente comparar a atitude das cidades brasileiras em relação a sua arquitetura com nossos vizinhos (Argentina, Chile, Uruguai...) é uma covardia enorme, e no caso dos concursos também (ou principalmente), não apenas o Chile com o Elemental, mas também no Peru, na periferia da grande Lima há uma iniciativa semelhante, e nós somos obrigados a ver todos os anos projetos de baixa qualidade sendo construídos sem nenhuma criatividade ou qualidade.

Mas nós Arquitetos o que temos feito a respeito para mudar este quadro?

um abraço e parabéns pelo blog.
luciano.

Edson Mahfuz disse...

oi luciano,

obrigado pelo comentário.

o engavetamento de projetos vencedores de concurso é um problema sério e tem que ser enfrentado pelos IABs. talvez devam ser mais cuidadosos a respeito dos concursos que aceitam organizar. não construir o projeto vencedor tira credibilidade do processo.

Anônimo disse...

toda re-urbanisação do cais do porto não levou ao mesmo resultado? tenho uma vaga lembrança de ter visto uma expo dos projetos do concurso

Edson Mahfuz disse...

sim, houve dois concursos para o cais e depois houve um para a ospa baseado no projeto vencedor de um deles. nada aconteceu, a exemplo do concurso para o restaurante da usina do gasômetro.

pelo brasil afora, há inúmeros casos semelhantes. a pergunta inevitável é: porque fazer concursos se o objetivo não é construir o projeto vencedor?

Anônimo disse...

só no RS dá para fazer uma lista bem interessante... Sede da FIC em Caxias, Muro da Mauá, Cais do Porto, Restaurante do Gasômetro... alguns mais recentes que não faço idéia de como estão, como Sede do PMDB, o de Itaqui, entre outros...

HMVA disse...

Caro Edson, ganhaste um leitor assiduo.
Parabéns pelos textos gostosos de ler. Acrescentam muito, novidades e questionamentos muito relevantes.

Sou arquiteto recém formado e apaixonadíssimo por arquitetura.
Adorei o texto sobre a therme vals (Suíça) a FIC.

Saudações.

Hermógenes Moussallem Vasconcelos
Arquiteto
Belém Pará.

Edson Mahfuz disse...

infelizmente, posso acrescentar à tua lista os concursos da Cientec, Fapergs, Parque de Expos de Esteio.

estou me dando conta de que a norma, pelo menos no RS, é fazer o concurso e não construir. não me surpreende que tenhamos uma arquitetura tão ruim.

Silvia Barboza disse...

Antes de mais nada quero parabenizá-lo pelo blog. Muito interessante.
Quanto as premiações , creio que precisamos fazer um trabalho melhor de marketing e convencer nossos governantes e políticos da necessidade não só de se executar os projetos, mas de se implementar um política habitacional.

Edson Mahfuz disse...

oi silvia,

obrigado pelo comentário.

me parece surreal que uma iniciativa que pretende elevar o nível da habitação social por meio de concursos, não se disponha, em princípio, a construir os projetos vencedores.

se não fizer isso, como essas idéias vão ganhar visibilidade?

esse construir poderia ser entendido como construção direta, pela própria CEF, ou pela sua intermediação, oferecendo os projetos a construtoras, por meio de algum programa.

por falar nisso, a CEF deveria criar critérios mínimos de projeto que deveriam ser seguidos pelas construtoras. não estou falando de dimensões ou materiais, mas um manual de projeto, relativo às unidades e ao desenho urbano dos conjuntos.

pode ser que esteja sonhando, mas no exterior isso é comum.

abraço.

Silvia Barboza disse...

Olá Edson,
Poderia haver uma exposição dos trabalhos premiados de habitação pelo Premio CAIXA-IAB ou pelo menos publicarem um livro para que os projetos pudessem ter melhor visibilidade e fossem construídos.
A Vitruvius deve ter um ótimo acervo virtual. Pelo menos uma matéria tratando deste assunto.
Acabamos de ganhar o prêmio e como sei da vida dos projetos habitacionais neste país, já estou preocupada.
Um grande abraço e mais uma vez parabéns!!!

Edson Mahfuz disse...

silvia,

o único modo de vocês conseguirem construir o projeto premiado é irem atrás de alguma construtora que se interesse e que não queira modificá-lo. duvido que a CEF mova uma palha nesse sentido.

sobre uma possível, mas improvável, publicação, ela deveria incluir todos os que entregaram. conhecendo os nossos júris, poderia apostar que deixaram muita coisa boa de fora.

mas quem teria a iniciativa dessa publicação? e quem a financiaria? a caixa? o iab? acho mais viável acreditar em papai noel.

abraços.

Silvia Barboza disse...

Olá Edson,
Difícil, mas não impossível. Quanto ao manual, achei a idéia excelente.
Sabe de algum endereço eletrônico que trate deste manual ( seja na França ou algum outro país preocupado em solucionar as questões habitacionais do seu povo)
Um abraço