PROJETANDO COM OS OLHOS NO FUTURO


Desenvolvimento sustentável, sustentabilidade, aquecimento global são termos que aparecem constantemente na mídia e refletem sérias preocupações que começam a se difundir fora dos âmbitos especializados em que surgiram.

Eu entendo que esses temas são interrelacionados, no sentido em que o aquecimento global é resultado de um estilo de vida que não se preocupa com a sustentabilidade e é um obstáculo para que se possa atingi-la.

Desenvolvimento sustentável é o que “satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer as suas próprias necessidades” (Comissão Brundtland, 1987). Isso significa:
- Reduzir o consumo de fontes de energia não renováveis (fósseis e minerais);
- Reduzir e otimizar o uso de recursos naturais finitos como a água, a madeira, etc;
- Desenvolver fontes de energia alternativas (solar, fotovoltaica, eólica, das águas, etc);
- Tornar mais eficiente o desempenho das edificações que construimos;
- Reduzir a poluição ambiental causada pelas atividades humanas, responsável pelo aumento da quantidade de CO2 na atmosfera, principal causador do aquecimento global que já estamos percebendo.

E o que isso tudo tem a ver com a arquitetura? Os edifícios consomem 50% de toda energia que é gerada (45% para aquecer, ventilar e iluminar, e 5% para construi-los) e 40% de toda a água utilizada no mundo. Está mais do que na hora de torná-los mais eficientes.

Como fazer isso? Sem qualquer pretensão de esgotar o assunto, sugiro algumas medidas de projeto que podemos adotar agora, com os recursos de que dispomos no Brasil.

1. Uso de energia solar para aquecimento de água. Um maior gasto inicial em equipamentos é recuperado em prazo de um a dois anos. A partir de então a água quente passa a não ter custo. A energia solar também pode gerar energia elétrica por meio de placas fotovoltaicas mas essa tecnologia ainda tem um custo proibitivo no Brasil.

2. Um bom uso da iluminação natural reduz os gastos de energia. Espaços não mais profundos que 7m e iluminação vinda de cima ajudam muito.

3. Emprego de recursos naturais de ventilação (efeito chaminé, ventilação cruzada) reduzem em muito o uso de ventiladores e ar condicionado.

4. Redução do uso da água encanada pelo armazenamento da água da chuva para utilização na rega de plantas, manutenção, lavagem de carros, etc.

5. Reciclagem da água usada nas pias para os mesmos fins do ítem anterior.

6. Proteção das fachadas e cobertura dos edifícios com elementos sobrepostos a elas: redução do consumo de ar condicionado.

7. Construir paredes e coberturas com isolamento térmico também significa redução do consumo de ar condicionado: o aumento da inércia térmica minimiza as trocas de temperatura entre interior e exterior.

Os recursos para uma arquitetura mais responsável estão à disposição de qualquer um. Sua utilização só depende de dar ao assunto a prioridade que merece.

Todos esses recursos foram utilizados no projeto de habitação popular com que participamos do Prêmio Caixa-IAB 2006 (co-autores: Manuel Cerdá e Ana Paula Alcantara Gomes). Nesse caso, paredes externas grossas e ocas servem como condutos para a retirada do ar quente e ingresso do ar fresco no interior dos apartamentos. (Esse projeto está publicado em http://www.fotolog.com/edsonmahfuz/)

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OBS.: Comentários são muito bem vindos e será um prazer respondê-los mas, por favor, identifique-se (nome + email), para eu poder saber com quem estou me comunicando. Obrigado.

10 comentários:

Anônimo disse...

eu acho que sempre se toca em questões periféricas sobre este assunto. as centrais são tidas como intocáveis. o problema ecológico é primeiro e fundamentalmente um problema econômico, mas num sentido corrente do que seja economia, no dos grandes sistemas que compõem a vida do homem. isso me faz pensar que, mais do que preocupações de fato com o assunto, estamos imersos numa 'cultura do ecológico' e quando cultura já não é mais do que produto da indústria cultural e da sociedade do espetáculo - um vazio reverberado; sem sentido.
expressões cunhadas a tanto tempo e reflexo de um diagnóstico já feito de muito, mas ainda sem efeito, que me faz pensar que tudo está perdido já.

ações tópicas desarticuladas nem remedeiam mais, só consolam consciências 'atormentadas'. precisamos ultrapassar nossa condição de 'vítimas emotivas'...

Edson Mahfuz disse...

comentários interessantes e instigantes como este merecem autoria.

este foi o último comentário de um anônimo que eu publico.

Fernando L Lara disse...

Grande Mahfuz,
legal encontrar voce na blogosphera tambem.
Abracos,
Fernando

Anônimo disse...

Olá...eu diria 'Projetando com olhos no presente'. Esse é um assunto que merece sim uma resposta urgente da sociedade, não apenas com relação a arquitetura, mas também com relação a toda nossa estrutura de vida. As medidas simples e 'tópicas' além de darem sua contribuição direta, ajudarão a sociedade a repensar seu papel no contexto atual. Tudo deve começar com conscientização! Mas concordo que existam muitas articulações que também merecem começar a ser discutidas.

Rique Benites disse...

Em relação à arquitetura, acredito que a questão da sustentabilidade é um valor que deve ser agregado aos alunos desde o primeiro semestre em cada projeto. Deveria ser encarada como elemento chave de qualquer bom pensamento arquitetônico.

Assim como se deve pensar um mínimo estrutural, obedecer a principios básicos de conforto ambiental e materiais que não sejam agressivos ao meio ambiente não é tarefa impossível. É questão de costume e educação.

Muitos arquitetos, professores das universidades, torcem o nariz quando um aluno apresenta um projeto com tais características, criando um desestimulo que não deveria existir no meio acadêmico - cabe então ao aluno sozinho correr atrás do conhecimento. Espero pelo dia em que o meio acadêmico de arquitetura mude um pouco.

Edson Mahfuz disse...

rique,

o desafio é exatamente este: como fazer arquitetura formalmente interessente atendendo a todas as necessidades do problema e incorporando técnicas e procedimentos ligados à sustentabilidade.

muito do que se vê hoje nos escolas é pura manipulação vazia, arte tridimensional, sem preocupações mais responsáveis. é o que helio piñón chama de criar "geniozinhos incompetententes".

abraço.

Rique Benites disse...

Concordo Edson, aliás, o problema é como fazer qualquer arquitetura formalmente interessante, mas de maneira que a estética seja o fim e não o meio. Incluindo tudo aquilo que deve estar em uma boa arquitetura, seja sustentabilidade ou qualquer outro elemento. Vendo o panorama do ensino de arq. aqui na Espanha, mais especificamente na Politécnica de Madrid, vejo o quanto estamos atrasados no Brasil e presos a idealismos antigos que não deveriam fazer-se mais presentes. Aulas de projeto são normalmente corrigidas com simples demonstrações de "me agrada" ou "não me agrada" por parte dos professores, faltando muitas vezes uma crítica verdadeiramente construtiva, racional e objetiva.
Abs

Anônimo disse...

Sou arquiteta e também participei de um dos concursos caixa/IAB para habitação popular. Infelizmente, a categoria a que concorri foi simplesmente eliminada sem maiores explicações e nenhum trabalho foi escolhido - então não pude conhecer os trabalhos concorrentes e ficamos sem nenhum feed-back do projeto. Conto isso para introduzir o início de um descrédito crescente para com os concursos que levam essa duplinha "banco público+habitação popular".
Nesse contexto, vi o trabalho de vocês e faço uma crítica: não acho possível dizer que seja uma abordagem sustentável colocar aquela quantidade de gente pra morar naquele tamanho de terreno. Esse adensamento é desumano!

Meus projetos também exploram esse tema, então sinta-se livre para conhecê-los e criticá-los também.
Abraços, Maria Augusta

Edson Mahfuz disse...

pois é, maria augusta. a gente defende os concursos e eles fazem coisas como essa.

o pior é promoverem um concurso para trazer idéias para a habitação popular (num reconhecimento da indigência do que é produzido no setor) e não fazer nada para construir essas idéias.

isso é subdesenvolvimento da pior espécie: a mental.

abraço.

Unknown disse...

A falta de ensinamento nas escolas é uma das responsaveis pelo entendimento adequado da sustentabilidade do planeta.
Temos que ter materias destinaas a este assunto , com muita responsabilidade ,mostrando ,o que esta sendo ensinado tem que ser aplicado ,mesmo que em seu univrso de atuação que pode ser resumido.
Todos somos responsaveis por uma vida melhor de todos.
caio Serrachioli