Uma das máximas da prática da nossa profissão é que para se obter boa arquitetura não é suficiente um bom arquiteto, é preciso que o cliente também seja bom.
Há inúmeros casos na história da arquitetura em que uma obra importante, quando mencionada, é vinculada ao seu autor e a quem o contratou, especialmente antes do surgimento da burguesia, quando os clientes eram em geral membros das elites dominantes − igreja e realeza, para ser mais preciso. A Roma de Sixto V, a Paris dos Luizes, etc., é que se pode ler nos livros de história.
Na nossa própria época há casos muito conhecidos. O início da arquitetura moderna brasileira está associada ao processo de construção do edifício do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, que só foi possível pela presença do ministro Gustavo Capanema. Na figura de Juscelino Kubitschek tivemos o idealizador e impulsor do Conjunto da Pampulha, obra marcante na trajetória de Oscar Niemeyer, e da construção da cidade de Brasília, sendo Lúcio Costa o urbanista e Niemeyer o responsável pelos principais edifícios. Em tempos recentes podemos citar a Fundação Iberê Camargo, responsável pela criação do museu de igual nome, autoria do arquiteto português Álvaro Siza Vieira.
Mas o que significa ser um bom cliente? Permitir que o arquiteto faça o que lhe dá na cabeça? Não, o bom cliente não é o milionário que nos dá liberdade total, orçamento ilimitado e que só aparece na hora de receber as chaves da sua casa ou empreendimento. O bom cliente tem que ser um parceiro, alguém que impõe limites, cobra explicações, e assim mantém o arquiteto “na linha”.
O bom cliente é alguém que controla mas não tolhe os movimentos do arquiteto, confia nele mas quer ser convencido de que os seus argumentos são bem fundamentados, acredita mais no seu profissional do que nos amigos −que lhe dão conselhos em outra direção− ou no mestre de obras −que sempre conhece um meio “mais barato” de fazer as coisas.
Para ser um bom cliente, é preciso ter algum conhecimento de arquitetura e urbanismo (sim, pois o cliente pode ser um prefeito ou secretário municipal). Sem esse conhecimento mínimo, como saber o que se quer e −muito importante− como identificar o Arquiteto entre aqueles muitos que só possuem o diploma universitário sem sê-lo.
Adquirir esse conhecimento mínimo de que falo certamente significa um esforço que poucos querem fazer. Mas a sua recompensa é enorme: melhores habitações, locais de trabalho e, no limite, melhores cidades para se viver.
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OBS.: Comentários são muito bem vindos e será um prazer respondê-los mas só serão publicados e respondidos aqueles que tiverem autoria (nome + email, por favor). Obrigado.
Há inúmeros casos na história da arquitetura em que uma obra importante, quando mencionada, é vinculada ao seu autor e a quem o contratou, especialmente antes do surgimento da burguesia, quando os clientes eram em geral membros das elites dominantes − igreja e realeza, para ser mais preciso. A Roma de Sixto V, a Paris dos Luizes, etc., é que se pode ler nos livros de história.
Na nossa própria época há casos muito conhecidos. O início da arquitetura moderna brasileira está associada ao processo de construção do edifício do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, que só foi possível pela presença do ministro Gustavo Capanema. Na figura de Juscelino Kubitschek tivemos o idealizador e impulsor do Conjunto da Pampulha, obra marcante na trajetória de Oscar Niemeyer, e da construção da cidade de Brasília, sendo Lúcio Costa o urbanista e Niemeyer o responsável pelos principais edifícios. Em tempos recentes podemos citar a Fundação Iberê Camargo, responsável pela criação do museu de igual nome, autoria do arquiteto português Álvaro Siza Vieira.
Mas o que significa ser um bom cliente? Permitir que o arquiteto faça o que lhe dá na cabeça? Não, o bom cliente não é o milionário que nos dá liberdade total, orçamento ilimitado e que só aparece na hora de receber as chaves da sua casa ou empreendimento. O bom cliente tem que ser um parceiro, alguém que impõe limites, cobra explicações, e assim mantém o arquiteto “na linha”.
O bom cliente é alguém que controla mas não tolhe os movimentos do arquiteto, confia nele mas quer ser convencido de que os seus argumentos são bem fundamentados, acredita mais no seu profissional do que nos amigos −que lhe dão conselhos em outra direção− ou no mestre de obras −que sempre conhece um meio “mais barato” de fazer as coisas.
Para ser um bom cliente, é preciso ter algum conhecimento de arquitetura e urbanismo (sim, pois o cliente pode ser um prefeito ou secretário municipal). Sem esse conhecimento mínimo, como saber o que se quer e −muito importante− como identificar o Arquiteto entre aqueles muitos que só possuem o diploma universitário sem sê-lo.
Adquirir esse conhecimento mínimo de que falo certamente significa um esforço que poucos querem fazer. Mas a sua recompensa é enorme: melhores habitações, locais de trabalho e, no limite, melhores cidades para se viver.
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OBS.: Comentários são muito bem vindos e será um prazer respondê-los mas só serão publicados e respondidos aqueles que tiverem autoria (nome + email, por favor). Obrigado.
5 comentários:
Caro Edson,
Tenho absoluta convicção de que tudo o que você escreveu está mais que certo. Contudo proponho um questionamento! Como trabalhar o cliente de modo que este compreenda o que é ser um bom cliente e que ao mesmo tempo ele possa diferenciar o bom o e mau profissional. De que maneira nos arquitetos podemos agir para trazer conhecimento prévio a quem tem necessidade de contratar um arquiteto? Não estou aqui fazendo uma provocação! Quero realmente fomentar um plano de ação! Assim sendo espero que este questionamento possa ser trabalhado de modo que nos arquitetos tenhamos cada vez mais instrumentos ao nosso favor na ardua luta diaria por uma arquitetura digna e de qualidade! Abraço!
é um bom questionamento e me disponho com prazer a discuti-lo, mas gostaria de saber com quem estou falando.
portanto, aguardo um outro comentário com nome e email, para que possamos trocar idéias sem transformar este blog em um lugar para discussões entre arquitetos.
como declarei no cabeçalho, a idéia é falar aqui de arquitetura para os não arquitetos, que é um dos modos de tentar disseminar algum conhecimento sobre a nossa profissão.
um abraço.
Ola . Interessei-me bastante sobre este assunto da arquitetura para os não arquitetos ... Eu ainda sou nova, mas quero seguir Arquitectura, o qe me leva a qestornar-me sobre muitas coisas neste ramo .. Será qe o senhor me poderá ajudar ?
Que máximo!!! Amei seu blog, estarei assiduamente aqui para ler e discutir sobre tudo isso. Sei que é um blog para não arquitetos mas é impossível resistir. Parabéns por essa iniciativa, que além de mostrar o nosso valor, valoriza ainda mais tb aqueles que são nosso objetivo: o cliente, que é o que nos gera o lucro que todos buscamos. se não fizermos nada para que toda a sociedade entenda o que é nossa profissão, ninguém o fará, afinal, só interessa a nós, arquitetos.
Muito boa sorte e sucesso.
LAura Jane
Olá Edson!
Parabéns pelo texto e pelo blog!
Acho que esta frase do quinto parágrafo resume muito bem o que seria o bom cliente: "O bom cliente é alguém que controla mas não tolhe os movimentos do arquiteto, confia nele mas quer ser convencido de que os seus argumentos são bem fundamentados..."
Abraço,
Alexandre
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