QUANDO MENOS É MUITO MAIS



Uma das maiores dificuldades da relação entre arquitetura e público em geral é identificar o que é produção autêntica, portadora de qualidade real, e o que é feito para obter efeito visual e impacto de pouca duração.

A isso se soma o entendimento equivocado do que é criativo em arquitetura, muitas vezes confundido com o que é excessivo e estridente. Um bom exercício pode ser comparar exemplos para tentar apurar a habilidade de estabelecer diferenças entre uma atitude e outra.

Vejamos dois edifícios que abrigam programas muito parecidos (loja de mobiliário contemporâneo), são de tamanho quase igual e se localizam em avenidas com características semelhantes —predominância de atividade comercial e intenso tráfego veicular. O edifício da esquerda é a loja Forma, em São Paulo, e o da direita uma loja construída em Porto Alegre.

Duas premissas comuns aos dois projetos: estão situados em entornos repletos de estímulos visuais —que alguns qualificariam como poluição visual— e, em conseqüência disso, garantir a sua visibilidade passa a ser uma necessidade a ser cumprida pelo projeto.

O projeto de Porto Alegre é um exemplo de preferência pelo excesso. Há janelas de vários tamanhos, elementos que se projetam para fora, outros que recuam, pouca proteção contra o sol e uma total falta de identidade formal —desafio a qualquer um dos leitores a definir esse objeto com poucas palavras. O resultado disso tudo é um edifício que se confunde com o seu entorno, efeito contrário ao que seria desejável.

Já a loja Forma é um primor de economia de meios que resulta em uma impressionante intensidade formal. Sua identidade formal pode ser descrita simplesmente como uma “caixa” elevada do solo (o que, aliás, cria um estacionamento protegido). Esse volume é vazado uma única vez, e esse corte define a vitrine, que foi pensada para ser vista desde os carros que passam pela rua e permite vistas em diagonal ascendente do interior da loja.

Enquanto no primeiro projeto a profusão de eventos formais confunde o observador, que não sabe para onde deve olhar, no segundo a economia de meios define um edifício sintético e potente, que se destaca da sua vizinhança e cumpre tudo o que seus clientes poderiam esperar.

Nota 1: o projeto da loja Forma já foi discutido aqui em maior detalhe em 27/5/2006.
Nota 2: a foto da Forma é de autoria de Nelson Kon
(http://www2.nelsonkon.com.br/)
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OBS.: Comentários são muito bem vindos e será um prazer respondê-los mas só serão publicados e respondidos aqueles que tiverem autoria (nome + email, por favor). Obrigado.

6 comentários:

Unknown disse...

A impressão que tenho é que a loja de Porto Alegre foi colocada em uma casa ou edificação que já existia e que foi adapata para a loja.

Edson Mahfuz disse...

é só impressão. se houve reforma foi tão completa que não deixou vestígio do original.

no entanto, se fosse uma reforma isso não seria uma atenuante. há muitas reformas que operam no sentido de simplificar a envolvente do edifício, ao contrário desse caso.

Unknown disse...

É aquela historia né:"gritar sem ter o que dizer". Só que a loja de Porto Alegre nao chegou nem a gritar, o que por um lado poupa os nossos olhos do espanto inecessário. Hoje mesmo li uma reportagem do arquiteto chileno Mathisa Klotz a respeito da arquitetura comtemporânea, e dizia o seguinte: " Está aquilo que se constroi para responder a uma necessidade real inmobiliaria; que na maioria dos casos é uma arquitetura absolutamente carente de arquitetura. Há exeçoes(como a loja Forma no caso).Depois, tem uma arquitetura do espetáculo, que na minha opiniao é muito pior que a primeira porque há uma obsessao em consumir o que nao pode ser consumido que sao os edifícios. Por último há um espaço importante para arquitetos que estao tentando fazer um trabalho sério e que nao sao os que se destacam porque a boa arquitetura chama a atençao porque nao chama a atençao."
Acho que Mathias Klotz deixou bem clara sua opinao(que nao necessariamente está certa ou é uma regra que deve ser seguida) e contraría o obra de muitos outros arquitetos como o Oscar Niemeyer. Mas acho que neste caso em particular da loja Forma, ou na obra em geral do Paulo Mendes e na de muitos outros arquitetos como o própi Klotz se encaixam nesta citaçao.
Por sinal a arquitetura comtemporânea chilena como a do Mathias Klotz ou Enrique Browne é de uma qualidade absurda, recomendo.

Giovani Barcelos disse...

A simplicidade da forma contrasta com a força que ela tem. Formas simples possuem muito mais força arquitetônica do que malabarismos volumétricos, pois não distraem o olhar e sim o focalizam. A loja Forma é um exemplo. Quando a admiramos, enxergamos o todo do conjunto e não elementos pontuais. Quando vejo a arquitetura construída, procuro sempre ver o todo, se consigo, jé é um bom passo para entendê-la.

Abraço

luciano l. basso disse...

bom texto... porém injusta comparação, não?

Edson Mahfuz disse...

luciano,

discordo totalmente. injusta porque? porque de um lado temos PMR e do outro algum desconhecido local?

o que está sendo comparado são duas atitudes em relação ao projeto. uma pode levar ao nível de excelência que caracteriza a loja Forma; a outra não leva a nada que tenha valor cultural.

injusto mesmo é submeter as pessoas à arquitetura confusa que cobre as nossas cidades.

abraço.