É comum se ouvir queixas de que os arquitetos não conseguem usar o conhecimento que possuem, pois a maioria dos clientes pede sempre as mesmas coisas, e coisas que os arquitetos prefeririam não fazer. Ao mesmo tempo, vemos que em outros lugares não apenas fazem o que gostaríamos de fazer, como aquela é a arquitetura corrente daquelas sociedades.
A que se deve isso? À burrice inata das pessoas que nos cercam? À superioridade cultural de umas sociedades sobre as outras? Não creio. Embora possam explicar alguns casos isolados, essas não me parecem as razões dos nossos dissabores profissionais.
Penso que a explicação para a sistemática subutilização da capacidade dos nossos bons arquitetos reside em algo muito simples: desinformação. As pessoas só podem querer o que conhecem, e o que conhecem é dependente daquilo que lhes é oferecido no meio em que vivem.
Como podemos esperar que as pessoas não envolvidas com arquitetura, artes e design desenvolvam cultura artística e arquitetônica, e a sofisticação visual que disso decorre, se nada no seu cotidiano leva a isso? Se o currículo das nossas escolas não inclui cultura artística; se as cidades são em geral feias e contam-se nos dedos os exemplos de arquitetura de qualidade superior; se os meios de comunicação –jornais, revistas populares e televisão— só tratam a arquitetura como objeto de consumo, esquecendo o seu papel cultural e vinculando a sua aparência a modas e tendências, de que modo as pessoas não vinculadas profissionalmente à arquitetura vão descobrir que a nossa profissão pode lhes oferecer muito mais do que aquilo que conhecem?
Muitas publicações e, infelizmente, muitos arquitetos tratam o público como crianças a quem não se conta toda a verdade, ou como pervertidos a quem se administra exatamente a droga ou pornografia que necessitam.
Várias experiências mostram que a maioria das pessoas, se tiverem paciência e interesse, podem entender a verdadeira arquitetura e passam a gostar e a se beneficiar dela. Nosso papel é o de fornecer informação correta e tentar explicar porque certos caminhos são mais adequados que outros. Assim, ajudaremos as pessoas a pensar, a se envolver intelectualmente e emocialmente com a arquitetura, ao invés de adotar o caminho fácil de “dar ao cliente o que ele quer”. Sabendo mais, muitos vão querer mais.
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OBS.: Comentários são muito bem vindos e será um prazer respondê-los mas, por favor, identifique-se, para eu poder saber com quem estou me comunicando.
A que se deve isso? À burrice inata das pessoas que nos cercam? À superioridade cultural de umas sociedades sobre as outras? Não creio. Embora possam explicar alguns casos isolados, essas não me parecem as razões dos nossos dissabores profissionais.
Penso que a explicação para a sistemática subutilização da capacidade dos nossos bons arquitetos reside em algo muito simples: desinformação. As pessoas só podem querer o que conhecem, e o que conhecem é dependente daquilo que lhes é oferecido no meio em que vivem.
Como podemos esperar que as pessoas não envolvidas com arquitetura, artes e design desenvolvam cultura artística e arquitetônica, e a sofisticação visual que disso decorre, se nada no seu cotidiano leva a isso? Se o currículo das nossas escolas não inclui cultura artística; se as cidades são em geral feias e contam-se nos dedos os exemplos de arquitetura de qualidade superior; se os meios de comunicação –jornais, revistas populares e televisão— só tratam a arquitetura como objeto de consumo, esquecendo o seu papel cultural e vinculando a sua aparência a modas e tendências, de que modo as pessoas não vinculadas profissionalmente à arquitetura vão descobrir que a nossa profissão pode lhes oferecer muito mais do que aquilo que conhecem?
Muitas publicações e, infelizmente, muitos arquitetos tratam o público como crianças a quem não se conta toda a verdade, ou como pervertidos a quem se administra exatamente a droga ou pornografia que necessitam.
Várias experiências mostram que a maioria das pessoas, se tiverem paciência e interesse, podem entender a verdadeira arquitetura e passam a gostar e a se beneficiar dela. Nosso papel é o de fornecer informação correta e tentar explicar porque certos caminhos são mais adequados que outros. Assim, ajudaremos as pessoas a pensar, a se envolver intelectualmente e emocialmente com a arquitetura, ao invés de adotar o caminho fácil de “dar ao cliente o que ele quer”. Sabendo mais, muitos vão querer mais.
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OBS.: Comentários são muito bem vindos e será um prazer respondê-los mas, por favor, identifique-se, para eu poder saber com quem estou me comunicando.
15 comentários:
vou entrar no ítem por ti levantado: as publicações.
não publicações específicas, mas nossos jornais de todos os dias. neles, como bem dizes, a arquitetura fica em cadernos sobre decoração, modas, design, tendências. Nestes cadernos não cabe uma análise mais profunda sobre os problemas da arqutetura, os problemas de nossas cidades, questões urbanísticas em geral. e porque? porque a imprensa depende de anúncios, e os anúncios graúdos são feitos por construtoras, e as construtoras visam lucro e muito raramente (há execões, como em tudo) se preocupam com a cidade em sí. como criticar anunciantes poderosos? aí não sai nada sobre isso tudo e fica somente a discussão sobre a mera decoração.
quem sabe a internet e a livre circulação das idéas pode dar um jeito nisso?
to,
sem núvida, a internet é o canal, em todos os sentidos.
o que tu descreves é muito verdadeiro, mas não descreve toda a situação. acho que há mais: a arquitetura ainda é vista como algo superficial, sem direito a ser discutida a sério.
a imprensa em geral não quer textos que façam as pessoas pensar, preferindo ficar na superficialidade.
como pode um país como o nosso não ter nenhuma coluna especializada em arquitetura e urbanismo, EM NENHUM JORNAL, mesmo de são paulo ou rio?
mas não adianta ficar só reclamando. temos que tentar fazer alguma coisa, ainda que pareça não ter efeito.
abraço.
Muito bom seus textos! Pensei q minha indignação nesses temas fossem ao meu pouco tempo de formação!
Mas será q com esse projeto de lei aprovado na câmara, que assegura assistência técnica gratuita às famílias de baixa renda, para projeto e construção de habitação de interesse social, conhecida como engenharia e arquitetura públicas, é uma luz no fim do túnel? Será q isso vai deixar a população mais informada da necessidade de um arquiteto?
Espero q sim!!! Quero acreditar q sim!!
michelen,
isso deve ajudar também. precisamos mostrar os aspectos essenciais em que os arquitetos pode realmente ajudar alguém a ter mais conforto.
escolher as cores e os sofás é importante, mas há uma série de outras decisões mais cruciais cuja importância é geralmente desconhecida.
abraço.
Grande Mestre,
Acompanho seus textos pelo site Vitruvius. Fiquei contente em descobrir que também possui um blog. Concordo com o texto e agradeço por despertar algo que não havia pensado antes: a educação dos clientes, em como educá-los para enxergar a real arquitetura em toda a sua nobreza.
roberto,
vamos deixar essa história de Grande Mestre para os maçons e para os jogadores profissionais de xadrez, ok?
obrigado pela visita. não se trata exatamente de "educar" os clientes, mas de abrir os olhos das pessoas para as possinilidades da arquitetura e para as vantagens de envolver um bom arquiteto nas suas obras. o adjetivo é importante pois, assim como em todas as outras profissões, há profissionais demais no mercado, e muitos apenas detém o título sem serem efetivamente arquitetos.
abraço e volte sempre.
por falar em educar os clientes, ou abrir os olhos dos mesmos:
eu sou burra, nunca morei em edifício, só depois de começar a morar (num edifício bem burro!!!!)me dei conta quão necessário teria sido a gente ter mais informações antes.
exemplo: nossa sacada tem um muro em vez de vidro. ao sentar, perco a vista. nossa porta de vidro tem uma barra antivista. ao sentar ela fica exatamente na altura dos olhos e barra a vista. nossa água tem consumo coletivo. então temos no prédio solteiros e familias com 5 membros e todos pagam o mesmo consumo de água, porque não há relógios individuais e não tem como colocar, porque os canos descem no meio dos apartamentos.
se a gente tivesse mais infos sobre oq observar ao comprar um apê, tudo seria diferente.
to,
se há coisa que tu não és é burra!
no teu desabafo há vários aspectos que eu detecto: um mau projeto, resultado do trabalho de um mau arquiteto, ou de um que não teve força para se contrapor às pressões da construtora; uma construtora incompetente e gananciosa, cujo objetivo é apenas o lucro (sim, já houve e ainda deve haver construtoras que queriam lucrar ao mesmo tempo em que vendiam imóveis de boa qualidade).
embutida no teu comentário há uma ótima sugestão: deveríamos criar uma espécie de manual para compradores, salientando uma série de aspectos a serem observados quando alguém considera um imóvel para compra, incluindo os que tu apontas.
um abraço e volte sempre.
Olá,
É a primeira vez que comento os seus textos, apesar de lê-los freqüentemente. Acredito que o ideal, realmente, não seria abrir apenas os olhos dos clientes, mas sim, também os ouvidos, as mãos, o nariz e até a boca, pois arquitetura é muito mais do que construir uma casa. Arquitetura é o ambiente construído e vivenciado pelo homem. Só nos resta, como arquitetos (pelo menos pensantes do assunto), assumirmos nossas posições firmemente.
Até a próxima.
Caro Mahfuz,
sobre projetos/construtoras/compradores de imóveis, tu sugeres um manual para o comprador do imóvel. Nós, (1 arquiteta, 2 engenheiros civis)elaboramos um Guia do comprador de imóvel Residencial, em 2005, que pretende servir de orientação ao potencial comprador de imóveis e até hoje não conseguimos "vender" esta idéia para nenhuma associação ou sindicato ou outro órgão ligado a Construção Civil. Este guia poderá facilitar a tarefa de analisar e avaliar os imóveis visitados possibilitando a escolha definitiva para a aquisição, pois relaciona uma série de itens que devem ser observados em um imóvel!
oi liane,
obrigado pela participação. muitas vezes pensamos em coisas que outros já fizeram. que bom que vieste a público informar que não será necessário reinventar a roda.
seria ótimo se tu pudesses postar outro comentário informando aos interessados onde e como obter o Guia do Comprador que vocês elaboraram. farei o possível para divulgá-lo.
abraço.
Mahfuz,
ainda não temos uma editora para nosso Guia, mas já temos Registro na Biblioteca Nacional. Precisamos de patrocinadores e/ou uma editora, pois o produto é de interesse social! Tens alguma sugestão?
Autores do Guia:
Margaret Jobim
Liane Lautert Etcheverry
Rafael Geremia
Obrigada, abraço
Liane
liane,
que bom ver que a margaret (participante ativa deste blog) também está envolvida nisso.
minha sugestão é que vocês procurem o ignacio benitez, da livraria do arquiteto (saguão da arq/ufrgs). ele tem uma pequena editora, com a qual estou por publicar um livro. acho que não vão se arrepender.
abraço.
mahfuz
Mahfuz,
vamos conversar com o Inácio, obrigada pela dica.
abraço
Liane
Caro Mafhuz,
A respeito da situação de sermos similares à costureira de bairro , existe o ótimo filme Vontade Indômita de King Vidor-1949.
Tens razão ao observares que a arquitetura saiu da pauta da crítica e das discussões culturais, com isto perdemos a importância perante a sociedade e, claro , a credibilidade.
abraço
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