Nas últimas duas ou três décadas algo muito curioso passou a acontecer envolvendo a profissão de arquiteto. A profissão saiu, por assim dizer, da obscuridade, ganhou as páginas dos jornais, as telas das televisões, surgiram muitas revistas populares, foram criadas novas escolas (hoje já quase passamos de duzentas!) e, é claro, o número de profissionais cresceu exponencialmente.
Paradoxalmente, as consequências para a profissão de toda essa exposição não foram boas. Dos anos 1970 para cá a arquitetura perdeu poder, reputação e, o que talvez seja muito pior, não passou a ser melhor entendida pelos seus usuários.
A superexposição na midia tornou a arquitetura mais conhecida, porém reduziu, aos olhos do público, o seu espectro de atuação: para a maioria das pessoas um arquiteto é alguém que trabalha com decoração, na melhor das hipóteses com interiores. No processo se perdeu o papel importantíssimo que a arquitetura tem (tinha?) de pensar o habitat humano como um todo, o que inclui desde o território ao mobiliário, passando pelo lugar em que a maioria de nós vive: a cidade.
É interessante notar que todos esperam, embora não desejem, que um arquiteto projete coisas estranhas, insólitas (quem já não ouviu a expressão “coisa de arquiteto”?). Me explico: embora essa seja a imagem idealizada do arquiteto, na vida real fomos reduzidos ao papel da costureira do bairro, aquela senhora a quem levamos um foto de uma roupa para que ela faça igual. Por alguma razão que precisa ser melhor explicada, foi perdida a confiança no papel propositivo da arquitetura.
Poucas são as situações em que o arquiteto é julgado indispensável. Muitos parecem achar que construir ou reformar é algo que qualquer um pode fazer. É bastante comum que as pessoas se aventurem a reformar edificações com o auxílio apenas de mão de obra não qualificada. Não tendo conhecimento de construção nem o treinamento que possibilite antecipar o resultado formal das suas intenções, o leigo acaba perdendo tempo e dinheiro, além de não obter o resultado desejado.
Por incrível que pareça, ainda é necessário esclarecer que a presença de um arquiteto competente numa obra faz diferença –para melhor— e que, ao invés de representar um custo adicional desnecessário, pode se constituir em um meio de economizar, pelo uso dos materiais adequados, pela racionalização do projeto e da obra, e pela supervisão que minimiza o erro e o desperdício.
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OBS.: Comentários são muito bem vindos e será um prazer respondê-los mas, por favor, identifique-se, para eu poder saber com quem estou me comunicando.
Paradoxalmente, as consequências para a profissão de toda essa exposição não foram boas. Dos anos 1970 para cá a arquitetura perdeu poder, reputação e, o que talvez seja muito pior, não passou a ser melhor entendida pelos seus usuários.
A superexposição na midia tornou a arquitetura mais conhecida, porém reduziu, aos olhos do público, o seu espectro de atuação: para a maioria das pessoas um arquiteto é alguém que trabalha com decoração, na melhor das hipóteses com interiores. No processo se perdeu o papel importantíssimo que a arquitetura tem (tinha?) de pensar o habitat humano como um todo, o que inclui desde o território ao mobiliário, passando pelo lugar em que a maioria de nós vive: a cidade.
É interessante notar que todos esperam, embora não desejem, que um arquiteto projete coisas estranhas, insólitas (quem já não ouviu a expressão “coisa de arquiteto”?). Me explico: embora essa seja a imagem idealizada do arquiteto, na vida real fomos reduzidos ao papel da costureira do bairro, aquela senhora a quem levamos um foto de uma roupa para que ela faça igual. Por alguma razão que precisa ser melhor explicada, foi perdida a confiança no papel propositivo da arquitetura.
Poucas são as situações em que o arquiteto é julgado indispensável. Muitos parecem achar que construir ou reformar é algo que qualquer um pode fazer. É bastante comum que as pessoas se aventurem a reformar edificações com o auxílio apenas de mão de obra não qualificada. Não tendo conhecimento de construção nem o treinamento que possibilite antecipar o resultado formal das suas intenções, o leigo acaba perdendo tempo e dinheiro, além de não obter o resultado desejado.
Por incrível que pareça, ainda é necessário esclarecer que a presença de um arquiteto competente numa obra faz diferença –para melhor— e que, ao invés de representar um custo adicional desnecessário, pode se constituir em um meio de economizar, pelo uso dos materiais adequados, pela racionalização do projeto e da obra, e pela supervisão que minimiza o erro e o desperdício.
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OBS.: Comentários são muito bem vindos e será um prazer respondê-los mas, por favor, identifique-se, para eu poder saber com quem estou me comunicando.
5 comentários:
Edson, eu penso que têm dois motivos fortes para isso:
1. em geral é falta de recursos, quem constroi ou faz reforma não tem muito dinheiro, acha que vai poupar fazendo apenas com um pedreiro, não se dá conta que nesse caso o barato sai caro, mas descobre isso só depois. Os que tem muito dinheiro fazem como escreves: pegam uma revista e vão num arquiteto e dizem: quero igual
2. ou vem a toa a incrível vontade criadora, a vontade de experimentar, descobrir soluções etc.que na vida diária, geralmente burocrática, as pessoas não podem exercer, e a pessoa vê nesse momento a possibilidade de realizar sua vocação criadora: bolando sua casa. Nesse sentido o Beuys dizia: todo home é um artista.
tens toda a razão nas duas observações. pena que se tenha que perder tanto dinheiro até descobrir que contratar um profissional não custa necessariamente mais caro.
acho saudável que as pessoas queiram criar. o que cria dificuldades é que, em geral, não tem o treinamento, ou experiência, para saber o resultado do que estão imaginando. daí procederem por tentativa e erro: constrem, não gostam, destroem, constroem de novo, e assim até acertar, se é que chegam a isso. o processo poderia ser facilitado por uma relação saudável com um arquiteto, alguém que pudesse materializar aqueles sonhos sem se tornar um mero desenhista.
abraço e obrigado pela participação frequente.
Edison.. um dos grandes problemas que acentuam essa questao é a constante desvalorização dos profissionais no brasil, nao importa em que área de atuação , as pessoas so recorrem a eles so quando realmente não ha mais saída. Os arquitetos são vistos como um custo a mais na obra , devido essa falta de reconhecimento profissional.
Luiz Oscar Valente
Edson,
tenho vivenciado seus comentários dia-a-dia na minha vida profissional. Tenho lidado com todo tipo de pessoa: algumas querem apenas o nome de um arquiteto para aprovação do projeto na prefeitura (as próprias estimulam tal atitude, uma vez que profissionais da instituição vendem assinaturas), outros querem um arquiteto para supervisionar a obra, mas interferem o tempo inteiro no trabalho se achando tão habilitados para tal tarefa quanto o profissional que contratou. Fora, que muitas vezes vêm com desenhos prontos de espaços feitos para outrém.
Apesar de tudo, acredito que cabe a nós profissionais mudarmos essa visão. Precisamos mostrar a nossa importância e não mais sermos escravos de modismos do mercado imobiliário. Precisamos ajudar o usuário a se conhecer e a reconhecer nos espaços que serão criados a sua própria essência, sua própria história. Precisamos superar as expectativas, fazendo com que ele receba muito mais do que esperava. Assim, estaremos mostrando nossa importância. Importância essa não conquistada com desenhos atraentes e muitas vezes enganosos, mas com arquitetura de qualidade, construindo espaços que realmente representem seu ser, brindando-os com o aconchego e prazer que a boa arquitetura pode proporcionar ao espírito.
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