O arquiteto mexicano Luis Barragan costumava afirmar que “uma casa é um refúgio, uma peça emocional de arquitetura, não uma peça fria de equipamento” e que “qualquer obra de arquitetura que não seja uma expressão de serenidade é um erro”.
Essa sensação de serenidade, propiciada pela arquitetura, pode funcionar como um antídoto contra a angústia e o medo tão presentes no mundo atual. Ao invés de concentrar-se na aparência dos edifícios, a arquitetura deveria se dedicar prioritariamente à criação de lugares que permitam os encontros, os relacionamentos e a alegria, ao mesmo tempo que possam possibilitar estados como a solidão, a contemplação, e o encontro com o nosso interior. A presença qualificada da luz natural na arquitetura é um dos elementos fundamentais nessa busca.
Muitos dirão que raramente há um espaço habitável que não disponha de luz natural, mas geralmente isso não é mais do que o cumprimento das exigências legais mínimas de habitabilidade. Estou falando de uma exploração da luz natural que vai muito além de fazer um buraco numa parede, que potencialize a experiência espacial em todos os tipos de ambientes. Em vez de limitar as entradas de luz a aberturas nas paredes dos espaços, pode-se explorar a luz que vem de cima, tão esquecida na arquitetura corrente, e assim trazer o céu para o interior das nossas casas e apartamentos.
Entre a arquitetura e a luz natural existe uma relação profunda e indissolúvel: faz sentido dizer que uma não existe sem a outra. O mais extraordinário templo grego ou catedral gótica não passariam de matéria inerte sem luz. Por outro lado, a luz sem arquitetura perderia muito do seu encanto, pois são os objetos do mundo que a revelam.
A luz, com suas variações e movimento, é a única coisa capaz de tensionar o espaço para o homem, de tornar o espaço visível e dar-lhe vida. Quando se consegue um diálogo entre o espaço, a luz que o percorre e o homem que o habita, aí aparece a Arquitetura. Algo muito fácil e difícil ao mesmo tempo.
Caso a arquitetura ainda mantenha como objetivo criar espaços emocionalmente benéficos, deve rechaçar ou pelo menos minimizar o seu envolvimento com tendências e modismos superficiais, voltando a explorar relações entre os edifícios e o mundo que permitam ao habitante transcender as circunstâncias da vida e conectá-lo à forças vitais da natureza. Não estou falando de coisas esotéricas, mas simplesmente de estabelecer relações mais claras e intensas entre os espaços que habitamos e aspectos essenciais e permanentes do mundo em que vivemos: o céu com suas nuvens e estrelas, as brisas, a chuva, a vegetação e, é claro, o sol.
Ilustrações: à esquerda, residência do arquiteto Luis Barragan, na Cidade do México; à direita, edifício de escritórios para os professores da Fac. de Matemática, PUC/Chile, de autoria do arquiteto Alejandro Aravena.
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OBS.: Comentários são muito bem vindos e será um prazer respondê-los mas, por favor, identifique-se, para eu poder saber com quem estou me comunicando.
Essa sensação de serenidade, propiciada pela arquitetura, pode funcionar como um antídoto contra a angústia e o medo tão presentes no mundo atual. Ao invés de concentrar-se na aparência dos edifícios, a arquitetura deveria se dedicar prioritariamente à criação de lugares que permitam os encontros, os relacionamentos e a alegria, ao mesmo tempo que possam possibilitar estados como a solidão, a contemplação, e o encontro com o nosso interior. A presença qualificada da luz natural na arquitetura é um dos elementos fundamentais nessa busca.
Muitos dirão que raramente há um espaço habitável que não disponha de luz natural, mas geralmente isso não é mais do que o cumprimento das exigências legais mínimas de habitabilidade. Estou falando de uma exploração da luz natural que vai muito além de fazer um buraco numa parede, que potencialize a experiência espacial em todos os tipos de ambientes. Em vez de limitar as entradas de luz a aberturas nas paredes dos espaços, pode-se explorar a luz que vem de cima, tão esquecida na arquitetura corrente, e assim trazer o céu para o interior das nossas casas e apartamentos.
Entre a arquitetura e a luz natural existe uma relação profunda e indissolúvel: faz sentido dizer que uma não existe sem a outra. O mais extraordinário templo grego ou catedral gótica não passariam de matéria inerte sem luz. Por outro lado, a luz sem arquitetura perderia muito do seu encanto, pois são os objetos do mundo que a revelam.
A luz, com suas variações e movimento, é a única coisa capaz de tensionar o espaço para o homem, de tornar o espaço visível e dar-lhe vida. Quando se consegue um diálogo entre o espaço, a luz que o percorre e o homem que o habita, aí aparece a Arquitetura. Algo muito fácil e difícil ao mesmo tempo.
Caso a arquitetura ainda mantenha como objetivo criar espaços emocionalmente benéficos, deve rechaçar ou pelo menos minimizar o seu envolvimento com tendências e modismos superficiais, voltando a explorar relações entre os edifícios e o mundo que permitam ao habitante transcender as circunstâncias da vida e conectá-lo à forças vitais da natureza. Não estou falando de coisas esotéricas, mas simplesmente de estabelecer relações mais claras e intensas entre os espaços que habitamos e aspectos essenciais e permanentes do mundo em que vivemos: o céu com suas nuvens e estrelas, as brisas, a chuva, a vegetação e, é claro, o sol.
Ilustrações: à esquerda, residência do arquiteto Luis Barragan, na Cidade do México; à direita, edifício de escritórios para os professores da Fac. de Matemática, PUC/Chile, de autoria do arquiteto Alejandro Aravena.
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OBS.: Comentários são muito bem vindos e será um prazer respondê-los mas, por favor, identifique-se, para eu poder saber com quem estou me comunicando.
7 comentários:
Luz!
e o que dizer dos prédios monstros que se erguem ao lado de prédios beeeeeeeem menores tirando deles toda luz e todo ar?
como dimensioanr um plano diretor?
o principal problema dos planos diretores é que tem sido criados para beneficiar a indústria da construção civil, não para criar uma cidade melhor para todos nós. se não fosse assim, não haveria porque mudar abruptamente a altura máxima permitida para 52m, o que causa o problema referido por ti.
a sucessão de planos (o que significa regras diferentes a cada poucos anos) e a economia fraca tem como consequência uma cidade que nunca se consolida e é um aglomerado de edifícios de várias alturas.
os planos deveriam ter em mente uma forma de cidade a ser atingida, estabelecendo gabaritos e recuos para chegar a isso (exemplo: a Paris de Haussman).
Olá, Edson!
Aqui é Maria Paula do programa Casa&Cia da TVCOM. Preciso falar com você. Por favor, me mande seus contatos para casa&cia@tvcom.com.br
Obrigada! Um abraço!
Nos dias de hoje, qual � a import�ncia que se d� a utiliza�o da luz natural nos projectos de arquitectura. Tendo em conta os v�rios benific�os t�rmicos, energ�ticos, comforto e economicos. Mas tamb�m a forma que vai influ�nciar o homem no seu quotidiano a n�vel sociol�gico?
A importância que é dada à luz natural em cada projeto vai depender de autor para autor. De modo genérico pode-se dizer que, dada a quantidade de edifícios construídos a cada ano, sua exploração é ainda incipiente.
Às vezes aparecem grandes aberturas em edifícios de uso coletivo como aeroportos e centros comerciais sem que tenha havido preocupação com o controle da luz que entra nos espaços, a qual traz com ela calor.
Na construção comercial a luz natural como qualificação do espaço é raramente encontrada.
Quanto à implicações sociológicas do uso da luz natural, desconheço-as. Já os benefícios psicológicos são facilmente constatáveis.
Concordo, mas também já existem alguns arquitectos que tem levado em conta o uso da luz natural nos projectos assim como o Arq.Siza Vieira.
Embora Le Corbusier fosse um dos primeiros a usar a luz como material essêncial na elaboração do projecto de arquitectura, usando as tabelas de Gian Lorenzo Bernini percursor do estudo da luz
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