2007

Agradeço a todos os que tornaram este blog uma realidade, visitando-o e participando ativamente. Continuaremos a partir de janeiro.
Boas Festas e um 2007 melhor ainda.

APATIA TERMINAL

Sou de opinião, já manifestada várias vezes, que o subdesenvolvimento não é apenas uma questão econômica, mas fundamentalmente mental, psicológica, de atitude perante a vida, em suas múltiplas facetas. A pobreza e a baixa qualidade de vida acabam sendo sintomas, consequências das decisões erradas que tomamos.

Em postagem anterior (Obra pública e qualidade de vida) eu já havia me manifestado contra a apatia e a falta de iniciativa das administrações públicas brasileiras, ressalvando as raríssimas exceções à essa regra.

Volto a esse tema em função do encontro realizado na UFRGS, organizado pelo seu Programa de Pós-graduação e Pesquisa em Arquitetura, focalizando a sede do Jockey Clube do RS, em Porto Alegre, e o seu entorno imediato, à beira do lago Guaiba. Para quem não sabe, o clube passa por dificuldades, e discute-se o que fazer com o seu enorme patrimônio, constituido não apenas por um grande terreno sobre o qual está a pista de corridas, mas por pavilhões de enorme importância arquitetônica e cultural, projetados pelo arquiteto uruguaio Roman Fresnedo Siri.

Na imagem que acompanha este texto vê-se acima, o setor da cidade onde está situado o Jockey Clube e, abaixo, uma das ameaças que paira sobre ele.

No seminário realizado na UFRGS, foram apresentados quinze projetos para o desenvolvimento da área, produzidos por equipes do PROPAR/UFRGS, assim como da Universidade Tecnológica de Viena e da PUC de Santiago, Chile. Todos esses trabalhos tomavam como área de investigação não apenas o terreno do Jockey Clube senão todo o seu entorno.

Embora o conjunto apresente grande diversidade de soluções, os trabalhos tinham dois pontos em comum: a busca de soluções para a preservação digna da sede do Jockey e o tratamento da área como um novo bairro, constituído de uma multiplicidade de atividades complementares (moradias, comércio, trabalho, serviços, esportes, lazer, etc).

O evento, longe de ser mais um encontro entre acadêmicos, foi um modo de protestar contra a falta de direção no desenvolvimento urbano de Porto Alegre, e de apresentar soluções para um problema específico e angustiante para os interessados.

Ao fim do encontro, ficou no ar uma pergunta já um tanto antiga: porque a administração municipal não se adianta aos fatos, identificando áreas de desenvolvimento potencial na cidade e promovendo projetos que possam ser oferecidos à iniciativa privada? Porque a apatia que nos leva a estar sempre tentando evitar o mal maior e tendo que nos conformar com soluções pela metade?

No caso presente, estamos diante da possibilidade que se construa um centro comercial que irá ocultar e depreciar um elemento importante de um patrimônio cultural já bastante ralo, além de contribuir muito pouco para melhorar o seu entorno. A péssima qualidade da arquitetura do shopping proposto nem chega a ser o pior problema. Muito pior é a falta de visão, que impede a cidade de tratar esse caso como uma oportunidade de qualificar uma parte considerável da cidade.

Essa possível qualificação só virá se o poder público tomar a frente e projetar esse setor da cidade. Não se pode esperar que a iniciativa privada o faça; esse não é o seu papel na sociedade em que nos toca viver.

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OBS.: Comentários são muito bem vindos e será um prazer respondê-los mas, por favor, identifique-se (nome + email), para eu poder saber com quem estou me comunicando. Obrigado.